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Agora ele já estava crescido, mas seus afazeres da infância eram treinar pontaria de flechadas na Escola Cupido. Era verdade plena, como estava no Estatuto da Sociedade Celestial Art. III : Tendo o sobrenome Cupidos, Cupido ou outras variações assim o fará pela eternidade.
Mas ser um integrante do clã Cupidos não era apenas uma sina, eles tinham proezas como... bem, voar todos do Vale Celestial o faziam, mas ler o pensamento, essa sim era uma vantagem. Então funcionava assim: O cupido observa uma pessoa por um dia e também outra selecionada por compatibilidade de pensamentos entre eles e, por fim, ele provoca um olhar, ou melhor, "O olhar".
E não pensem que Silas fazia o que fazia pensando que os humanos viviam numa utopia, o olhar era essencial, sem ele nada aconteceria, porém não precisava ser à primeira vista. Afinal incontáveis eram as vezes em que, mesmo que ele já houvesse provocado o primeiro olhar, o amor demorava para acontecer e poucas foram as vezes de amores pronunciados instantaneamente ao ato.
Isso acontecia pelo fato curioso de que cada flechada tinha um prazo de efeito diferente para cada humano, mas se Silas fosse um veterano, aí sim com todo esse tempo de prática a flecha possuiria um efeito mais rápido e poderoso.
Resumindo, se você se apaixonou á primeira vista só há duas explicações: ou é por tendência sentimental – você é sensível ao amor, ou o seu cupido era veterano.
Na Escola Cupidos, os professores já não exerciam mais a profissão original- da escolha de amores entre humanos - eles apenas deixavam de lecionar, voltando á ativa, quando a sensibilidade de algum humano era tão pequena que o amor só aconteceria com duas flechadas sendo pelo menos uma de um professor, dependendo do nível de insensibilidade.
Para se tornar um professor ( ou pós-veterano) era necessário o acerto de mais de dois países de humanos na escolha do par perfeito, essa era a única possibilidade de “ fugir da sina do sobrenome”.
Acontece que a porcentagem de humanos insensíveis ao amor era tão grande que os professores estavam quase tão ativos como antes e a Escola Cupidos enfrentava muitas aulas vagas, o que levava aos aprendizes protestarem, exceto Silas (que estava no último ano), e em ,meio á tanto caos de protestos, professores voando pra lá e pra cá no mundo dos humanos e escola vazia, remeteu-se á uma reflexão numa tarde perguntando-se o que era Amor.
Sim, na escola não ensinavam o seu significado, apenas práticas de mira e aperfeiçoamento. E Silas não encontrava a resposta. Cansado de ficar prostrado, foi dar uma volta no mundo dos humanos.
Ao sobrevoar uma região onde um veterano ainda não havia atingido alguns corações preguiçosos novamente, Silas sentiu um calor nos olhos, a vista turva e uma lágrima contornado seu rosto angelical pela primeira vez, ao ver o choro de uma humana que acabava de descobrir o amor, o seu primeiro amor. Ambos não sabiam o que sentiam , ela só sabia que queria ficar parada ali, em meio á multidão e, por mais que Silas estranhasse, se encontrava hipnotizado nela. Ela parecia procurar algo com os olhos e ele sabia o que era; quanto mais ele se achegava em volta dela os corações batiam mais forte. Ele olhava para ela, e apesar de não mais estar escolhendo amores, sentia que o amor o escolhera. Porém ela não podia enxergar um ser habitante do Vale Celestial e sem "O olhar" o amor não se concretizava.
Silas foi embora e ela também, ambos incompletos, entretanto, amantes.
Agora ele entendia porque os professores não ensinavam o significado de amor. Justamente pelo fato de o amor ser um sentimento inexplicável.
E em meio ao caos Celestial, Silas encontrou o porquê do que fazia e o que fazia.
Como se no primeiro momento em que questionou as coisas seu coração tivesse se aberto para receber as respostas e o amor, sentimento que não se entende nem por definição até que ele se manifeste em nós.
Esse é para o Blokutando, nunca tentei participar, mas quem sabe...
O que vocês acham ?
Érica Rodrigues.